terça-feira, 14 de junho de 2011

O quadro do tamanho do quadro

podem perceber, se quiserem perceber, se houver o que perceber.....que o quadro que inicia meu BLOG é do tamanho de algo bem grande, ilimitado, ele transpõe limites, ele não cabe, está assim, fora de formato,fora de padrão...como a loucura é....

Em 2002 eu e Rubens terminamos o livro sobre a vida dele, quem queria saber da vida dele era eu, ele queria contar, e contar e contar.....ele queria ser escutado, e gostava de falar e de ouvir as risadas, tinha de contar de um forma interessante só dele....dele...minha...dele...eu ria sozinha, adorava o jeito, e simplesmente supervalorizava cada palavra...dizia, ele é uma figura, todos concordavam...concordavam mas não davam espaço, nem ouvidos, davam conselhos e remédios....davam atenção, com os olhos perdidos na língua solta do meu parceiro de causos....
Um amigo meu, Fábio Monteiro, perdido como Rubens, gostava de se achar nas viagens do velho amigo de 65 anos, 45 internado, 20 numa busca frenética pelo amor materno.....eu meio desconvidada peguei papel e caneta e dei a ele para escrever....escrevia cartas para que irmãos o achassem....ele repetia, repetia, repetia, e eu lia, lia, lia como se nunca tivesse lido antes....adorava as palavras de Rubens, via nelas arte, arte e arte....pedi a ele que contasse e eu escreveria, ele se sentou e colocou-se a contar, toda semana um bocado de vida, eu doía com algumas partes e sorria com a maior parte....no meio disso ele adoeceu, ficou confuso, bravo, sério...Fábio nestas horas era o predileto, ou a Neuzinha e seu jeito mais arteiro de lidar com o velho Rubens......o livro anda comigo, não publicado, já foi a concurso, já virou peça de teatro, já virou trabalho científico....mas obviamente o livro não alivia o peso das palavras, ele mantém....repete, repete.....e o que queria agora é que a vida pudesse dar direito de existência a Rubens.....aos diversos Rubens com suas histórias de dores....acho que tem lugar pra todos, acho que tem quem queira ouvir. A clínica da saúde mental é essa clínica estranha do encontro em que se produz alguma escuta e possibilidades inusitadas....quais as possibilidades do meu amigo falador, peculiar, meu amado amigo, onde anda sua existência? Eu sinto saudade....acho que vou escrever uma carta menos virtual e repetir, repetir, repetir.

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