I FORUM DE DIREITOS HUMANOS E SAÚDE MENTAL

http://www.direitoshumanos2013.abrasme.org.br/conteudo/view?ID_CONTEUDO=682


Queridos leitores desse BLOG este ano em setembro em São Paulo o nosso primeiro fórum de direitos humanos e saúde mental.....click e veja a programaçao. Estarei em cena neste evento .... Trazendo o Teatro do Oprimido para discussão dos direitos humanos.....

Bem que se quis

Quem me dera ser feliz ao meio dia, com a pia cheia, os meninos gritando, as coisas por fazer, o dia pelas metades, a correria da cidade, o sol na cabeça, o banco lotado...quem me dera. Na verdade é isso que me incomoda, ser feliz, tenho sido e acho que algo não está certo, não costumo rir quando as coisas não vão tão bem, quando percebo que não tenho o que pensava ter, que aquele amor eterno acaba dia sim dia não, e um dia pode acabar dia sim dia sim.....não sou a mesma e nem o outro nunca, igual a glândula mamária que se perde pela metade quando amamenta, nunca volta ao normal...se infla numa nova cria, mas nem novidades fica murcha, caída....para o amor não existe prótese, existe amante....e isso não me interessa.
Mas do que estou falando...do luto primordial e de outras coisas, como da arrogância, da falta de escuta, da dificuldade que é aceitar a diferença que habita nossa casa....
Ahhh...quanto a ética-estética façamos um acordo....vou escrever a respeito no feriado, algo esclarecedor....
Vocês conhecem o projeto TEAR.....será um tópico próximo também, prá já, estou me recuperando de um domingo com início mudo e fim calado.

o sentido da vida e outras balelas sentimentais

Ontem descobri, não serei absolvida, presa ao nada do profundo exame do sentido da vida e pensando em como poderíamos chamar de doença o sentimento de vazio que vivemos na atualidade....pensei em Birman, em Bauman, em Kehl, e a casca estava mesmo grossa.....foi quando disse ao meu esposo : a morte de Deus ou sua dissolução na bíblia de fato é um problema interessante, visto que sempre buscamos o sentido , qualquer poder nos parece tamponar a falta, enganar o vazio....falei bem brevemente, por falar, pensando alto no meu próprio desejo de achar alguns sentidos....ele como de costume, primeiro com sarcasmo zombou da morte de Deus, pois como bom ateu, não se lembra de Deus ter um dia existido....mas a parte inesquecível desta breve conversa de fim de tarde, foi que ele se levantou, e pegou um copo para beber água dizendo assim: eu não entendo porque precisa de sentido, não busco isso, pra mim é assim, simples, é viver, é como pegar esse copo e colocar aqui- botou o copo na pia e foi fumar, simples como ele é. Complicada como sou, tentei prosseguir, mas na verdade ficou-me Adélia batendo na mente "como o pai na mesa, batendo o osso no garfo para tirar o tutano, embebido de tal modo em suas ações ... desejei ser assim, desejei sempre, tomava banho sabendo, sabia que namorava, assistia-me existindo exaurida...."

Sobre ética

Virou moda dizer que estamos defendendo uma posição ético- estética e etecetera.....na saúde mental....Alguns mais sérios, sabem do que estão falando....outros sabem e inclusive agem como se soubessem....muitos repetem como papagaios a palavra ética e agem como se apenas existisse uma lei - a do consumo .
Santa ética!!!! Ética se tornou algo tão debatido quanto banalizado, como quase todos os assuntos não é mesmo?
Eu os convido a ler "ética e psicanálise" de Maria Rita Kehl.....e a ouvir Karnak..."O mundo é pequeno pra caramba"....e outros sons que remetem a uma tradição do coletivo....cadê nossa ética meio a tanta liberdade, cadê nossa responsabilidade sobre aquilo que desejamos? Será que essa pergunta é coletiva, ou como tantas outras verei dizerem: isto é um problema seu, ou ainda, que esse é meu ponto de vista!!! Fica mais complicado pensar ética num mundo tão individualista.
Fica a dica de leitura e um assunto por se desenrolar. Por enquanto a ética do desejo é a única ética moderna cabível.... o quadro é um esboço que foi apagado, uma reunião de identidades....sim, meu....concordo que preciso de aulas de pintura!

O quadro do tamanho do quadro

podem perceber, se quiserem perceber, se houver o que perceber.....que o quadro que inicia meu BLOG é do tamanho de algo bem grande, ilimitado, ele transpõe limites, ele não cabe, está assim, fora de formato,fora de padrão...como a loucura é....

Em 2002 eu e Rubens terminamos o livro sobre a vida dele, quem queria saber da vida dele era eu, ele queria contar, e contar e contar.....ele queria ser escutado, e gostava de falar e de ouvir as risadas, tinha de contar de um forma interessante só dele....dele...minha...dele...eu ria sozinha, adorava o jeito, e simplesmente supervalorizava cada palavra...dizia, ele é uma figura, todos concordavam...concordavam mas não davam espaço, nem ouvidos, davam conselhos e remédios....davam atenção, com os olhos perdidos na língua solta do meu parceiro de causos....
Um amigo meu, Fábio Monteiro, perdido como Rubens, gostava de se achar nas viagens do velho amigo de 65 anos, 45 internado, 20 numa busca frenética pelo amor materno.....eu meio desconvidada peguei papel e caneta e dei a ele para escrever....escrevia cartas para que irmãos o achassem....ele repetia, repetia, repetia, e eu lia, lia, lia como se nunca tivesse lido antes....adorava as palavras de Rubens, via nelas arte, arte e arte....pedi a ele que contasse e eu escreveria, ele se sentou e colocou-se a contar, toda semana um bocado de vida, eu doía com algumas partes e sorria com a maior parte....no meio disso ele adoeceu, ficou confuso, bravo, sério...Fábio nestas horas era o predileto, ou a Neuzinha e seu jeito mais arteiro de lidar com o velho Rubens......o livro anda comigo, não publicado, já foi a concurso, já virou peça de teatro, já virou trabalho científico....mas obviamente o livro não alivia o peso das palavras, ele mantém....repete, repete.....e o que queria agora é que a vida pudesse dar direito de existência a Rubens.....aos diversos Rubens com suas histórias de dores....acho que tem lugar pra todos, acho que tem quem queira ouvir. A clínica da saúde mental é essa clínica estranha do encontro em que se produz alguma escuta e possibilidades inusitadas....quais as possibilidades do meu amigo falador, peculiar, meu amado amigo, onde anda sua existência? Eu sinto saudade....acho que vou escrever uma carta menos virtual e repetir, repetir, repetir.

Dia de Hoje

Recebi alguns elogios que me incentivaram, impressionante como queremos estar no palco e sermos lidos.....engolidos.....tidos como possuidores de algum conhecimento. Falando nisso em agosto é tempo de usar a palavra em espaços gostosos e cheios de graça: BH e Floriapa.
Teremos o Simpósio Mineiro e o Encontro Catarinense de Saúde Mental, e creio que serão oportunidades importantes para colocarmos o assunto em dia, acrescentarmos mais assunto na pauta e jogar o pensamento e a ação na frente da carroça da anti revolução......
Movimentar-se!!!!
Aproveitando para aquecer as turbinas para Buenos Aires...será que tudo da pé? Se não der pé dá sonho.....
Entrem na página da ABRASME que terão informações sobre os três eventos mencionados...aproveitem para darem uma navegadinha na associação e se quiserem se filiar....
http://www.abrasme.org.br/
No mais, hoje o céu azula no quintal paulistano, nem tudo é cinza, nem tudo é fumaça, tem sim lá no fundo do meu alcance dos olhos uma sombra que é serra....ela encerra a cidade e ruraliza essa terra, eu até sorrio, é bonito ter vontade de amar as coisas assim como se apresentam, e para mim isso tem bastado, até faço o convite: você quer?
Vamos juntos então encontrar quem mais queira, acho aos milhares nas casas onde se pode habitar a loucura...nisso tem cura...nisso tem cura a nossa besta seriedade.

Miolo da Missiva

Pra quem não sabe, este ano estou de volta aos palcos, depois de um ano meio bem inerte, estou retomando...aliás dois anos inertes. Os anos antes do ócio eram simplesmente elaborativos, gestei projetos em vão..mas agora como a vida veio ao ventre eu vim a vida, e tomei meu lugar na arte...meu lugar de atriz criadora, meu lugar na minha própria palavra...O Miolo da Missiva é um texto baseado num blog de mesmo nome, e estréia em outubro na Oficina Oswald de Andrade, aqui em São Paulo...O que sinto? Um danado frio na barriga...uma impressão de que muita coisa ficou guardada na pele, no desejo, muita coisa ancorada afinal a opção: ter filhos e família, sempre foi vista por mim como oposta a opção: ser uma mulher de teatro. Vejo-me desmentindo-me e iludindo-me, vejo-me gozando e frustrando-me, bem histericamente.....felizmente esse é meu jeito de lidar....e estou lidando. Levo o pequeno Humberto aos ensaios desde seus 21 dias...e lá vamos crescendo juntos, a vida dele e a minha......
Aguardo aplausos ou vaias...aguardo sofrimento e alívio.....isso tudo é sinal de saúde, muita saúde para que eu exista e para que diversas possibilidades de existências sejam oferecidas....depois um chá, um sofá e o ombro cotidiano do meu amor, os gritos dos filhos e uma tela hipnótica.